Em um tempo não muito distante, estagiários cursando o último ano de faculdade exerciam funções medíocres sem direito a qualquer remuneração, praticamente pagando para trabalhar, pois a alimentação ficava por sua conta e o transporte também. Tinham que se virar nos trinta para chegar no horário (afinal os ônibus em muitos bairros passam de hora em hora e a pessoa é obrigada a passear por vários bairros da cidade até chegar ao ponto mais próximo do seu “emprego”, enfim, além de ter que caminhar alguns quarteirões pra chegar até o suposto “emprego”, ele ainda tinha que cumprir aquela carga horária exaustiva. Fazer o que? Em muitos cursos o estágio é obrigatório para conseguir o tão sonhado diploma.
Graças a Deus alguém se sentiu injustiçado e reivindicou os nossos direitos e criaram alguns projetos de lei que regulamentam de certa forma a função dos estagiários. Não que tenha melhorado muito, porque infelizmente muitas empresas de pequeno/médio porte não aderiram essa visão de mercado e encaram o estagiário como um mísero ser vivo que está ali porque precisa da sua boa vontade, e acabam usando e abusando do pobre estagiário, mas afinal, o que eles pensam que somos?!?
Não desmerecendo logicamente os outros setores que não cobram um curso superior, mas muitos dos superiores confundem estagiários com qualquer outra “coisa” que com toda certeza não é um estágio, e os submetem a exercer funções que não lhes competem. Estudamos, ralamos longos anos de nossas vidas, sem vida social praticamente, sem tempo de fazer uma pequena visita aos parentes (incluindo nossa querida avó que vive cobrando aquela visitinha), amigos e afins… tratados como simples burros de carga, submetidos a aceitar qualquer coisa para poder pelo menos tentar entrar nesse mercado cão, super, hiper, mega competitivo diga-se de passagem.
Quando surge finalmente uma vaga de estágio os queridos superiores garantem um salário para o pobre universitário, que logo pensa… Poxa que legal! Vou fazer um estágio remunerado! Quando o pobre universitário escuta o valor do seu novo salário seu coração aperta, surge um nó na garganta e a vontade é falar pra aquele indivíduo que nessa altura do campeonato ele já nem quer lembrar o nome: Cara! Você deve estar de brincadeira com a minha cara não é? Sabe quanto eu pago de mensalidade na faculdade? E na van que me leva? (ou o combustível que eu gasto e o estacionamento – para quem vai de carro), o quanto eu gasto em xerox, livros, impressão, lanche (afinal muitos de nós universitários vamos direto do serviço para a faculdade e nem tempo de comer temos), quanto tempo eu gasto da minha vida, dos meus finais de semana, quantas noites mal dormidas, os cursos extra-curriculares que eu preciso fazer, as participações em palestras e seminários, e você tem a coragem de me oferecer essa salário? sem direito a vale transporte ou ticket alimentação? E ainda acha que está fazendo um favor ao me contratar porque eu vou aprender? Poupe-me!!
Mas esse pensamento é interrompido pelo questionamento se o pobre universitário vai ou não aceitar a vaga, então ele, como um mísero estudante se vê obrigado a dizer sim por não ter opção melhor, e submete-se a esse estágio que mal dá pra pagar o que gasta indo e voltando da sua casa rumo ao local.
Se você não for provido de um “PAItrocínio” certamente afundará, ou então aprenderá a viver com aquele salário mínimo e a gastar horas em livros ao invés de ir ao cinema, por exemplo, em um sábado a noite com a galera que possui o tal do “PAItrocínio”.
Infelizmente o que escrevo é a mais pura realidade no interior de São Paulo (americana), por exemplo, na prática os benefícios que hoje a lei prevê como: carga horária de 40 horas semanais, a obrigatoriedade de exercer funções na área do seu curso, vale transporte e alimentício só ficam no papel em muitas empresas, porque no dia-a-dia a realidade é bem diferente para a triste vida de estagiário, que muitas vezes são submetidos a exercer cargos como: a moça que arquiva coisas, atende ligações/efetua ligações, faz serviço de banco, cobrança, tira xerox, envelopa, passa pano no chão, tira pó, utiliza a vassoura, a moça do café…e por ai vai.
E essa meu amigo, é a vida de muitos estagiários pertencentes a empresas de pequeno/médio porte no interior do estado de São Paulo, não generalizando é claro, pois existem muitas pessoas que se dão bem nos seus respectivos estágios, mas infelizmente ainda existem empresas que não se preocupam muito em cumprir com certas leis e com programas de estágio, afinal na visão delas é muito mais cômodo contratar um estagiário pra pagar uma miséria de salário do que ter que pagar um profissional que já está no mercado a um certo tempo, e cobrará um pouco mais (merecidamente, venhamos e convenhamos) pela sua experiência, e a empresa ainda terá a obrigatoriedade em pagar todos os direitos trabalhistas, afinal ele é um profissional não um estagiário. Fica aqui a pergunta, isso já aconteceu com você? Se sim nos conte a sua experiência.
PS: O texto original eu escrevi no blog: http://tonasultimas.com.br/ (esse tem algumas adaptações hehe)
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